Perfil Clínico e Indicadores Sociodemográficos de Pacientes com
Sobrecarga de Ferro Atendidos em Centro Estadual de Referência
em Hematologia e Hemoterapia: um estudo transversal

Nome: JEFERSON HORSTH SATHLER

Data de publicação: 03/04/2025

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
DIVANEI DOS ANJOS ZANIQUELI Examinador Externo
MIRIAN FIORESI Examinador Interno

Resumo: O ferro, embora seja um elemento essencial à vida, pode se tornar tóxico quando em
excesso. A sobrecarga crônica de ferro, seja por distúrbios genéticos como a
hemocromatose ou por condições secundárias como a anemia falciforme, talassemia
ou outras condições que exijam hemotransfusões frequentes, causam danos a
diversos órgãos, incluindo o coração, fígado e pâncreas. Entretanto, há uma escassez
de dados sobre a prevalência e caracterização da população com sobrecarga de ferro
no Brasil, especialmente no Espírito Santo, informações importantes para subsidiar
não só futuras pesquisas, mas também ajustar práticas clínicas e políticas públicas
em saúde adequadas para essa população. Assim, este estudo teve como objetivo
caracterizar o perfil sociodemográfico e clínico de pacientes com sobrecarga de ferro
atendidos em um centro de referência em hematologia e hemoterapia no Espírito
Santo, Brasil. Foram incluídos 100 pacientes com diagnóstico de sobrecarga de ferro
(primária e secundária), seguindo critérios objetivos de inclusão segundo o Protocolo
Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde (2018), e sendo obtidos
dados sociodemográficos e de saúde, especialmente cardiovascular, que foram
coletados a partir de questionário e dados dos prontuários. Os resultados revelaram
que a maioria dos pacientes com sobrecarga de ferro secundária tinha etiologia
transfusional, tendo a anemia falciforme como doença de base mais prevalente. Esse
grupo foi representado por pessoas mais jovens (37,7±18,2 anos), majoritariamente
negras (pretos/pardos: 82%) e com menores níveis de escolaridade e renda, tendo a
hipertensão arterial e o diabetes mellitus como principais comorbidades presentes.
Também foi significantemente elevado o número de pessoas com enzimas hepáticas
alteradas nos últimos 6 meses, assim como a presença de anemia, em relação ao
grupo diagnosticado com sobrecarga primária. Por outro lado, os pacientes com
sobrecarga primária (hemocromatose) tiveram idade média superior (53,2±14,6 anos),
igualmente distribuídos entre negros (47,7%) e brancos (50%), e com maior
escolaridade e renda em comparação com aqueles de sobrecarga secundária.
Embora apenas a sua minoria possuísse diagnóstico genético confirmado, a mutação
mais prevalente para hemocromatose foi a homozigose C828Y (em 29% dos casos
confirmados). Além disso, nesses pacientes com sobrecarga primária, as prevalências
de doenças cardiovasculares e metabólicas foram significantemente superiores às da
secundária, assim como a frequência de pacientes que relataram uso regular de
tabaco (25% vs 10,7%) e álcool (40% vs 9%). Não houve diferença nos níveis
pressóricos e de frequência cardíaca desses grupos, tampouco no índice de massa
corporal e nível de atividade física. Em conclusão, a heterogeneidade do perfil
sociodemográfico e clínico nessa amostra, de um centro de referência estadual no
atendimento e acompanhamento de pacientes com sobrecarga de ferro, ressalta a
necessidade de estratégias de cuidado personalizadas para cada região, sendo
essenciais para melhor compreender e promover equidade no tratamento desses
pacientes. Além disso, os dados deste estudo pioneiro podem auxiliar na formulação
de políticas públicas de saúde mais eficazes para o manejo da sobrecarga de ferro no
Brasil.

Acesso ao documento

Acesso à informação
Transparência Pública

© 2013 Universidade Federal do Espírito Santo. Todos os direitos reservados.
Av. Marechal Campos, 1468 - Bonfim, Vitória - ES | CEP 29047-105